COMPORTAMENTO

10 MOTIVOS PARA TER ORGULHO LGBTQI+

Porque falamos ainda nos dias de hoje de orgulho LGBT? É preciso mesmo criar esse rótulo e, ainda por cima, levantar uma bandeira? Não podemos ser apenas seres humanos, independente de suas preferências sexuais? Muita gente deve fazer essas perguntas toda vez que um gay sai às ruas ou na internet manifestando seu orgulho de ser LGBTQI+.

Tem gente até que acredita que também deve ser criado o Dia do Orgulho Hétero, como resposta. Tem página de orgulho hétero no Facebook com mais de 300 mil membros.

Uma faixa considerável da direita conservadora defende que existe uma ditadura gay, que nós estávamos tentando impor nossa “ideologia”. É o que se falava, por exemplo, quando tentaram criar uma campanha educacional contra o bullying às crianças gays nas escolas. A criação de um suposto “kit gay“ por Haddad, entre outras fakes news, é um dos fatores da eleição de Jair Bolsonaro como Presidente.

A verdade é que o Orgulho LGBT tem sua importância por conta de uma história de lutas e de preconceitos. Eu sou pessoalmente grato a todos aqueles que simpatizam com nossa causa, e mesmo não sendo gays, desejam que todos sejam tratados com respeito.

Isso mesmo, porque lutar contra a discriminação da comunidade LGBTQI+ não é uma luta exclusiva dos gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, queers e todas as outras pessoas que fazem parte da sopa de letrinhas da diversidade sexual. Essa é uma luta de todxs.

Veja a seguir 10 motivos porque considero o Dia Internacional do Orgulho LGBT ainda importante na sociedade de hoje em dia.

 

Tudo nasceu em Stonewall

O mês de junho é comemorado no mundo inteiro como o mês do orgulho LGBT. Foi em 28 de junho de 1969 que aconteceu a Rebelião de Stonewall, nos Estados Unidos.

Mas você deve se perguntar? Como é possível um bar gay num lugar onde a homossexualidade é crime? A polícia costumava fazer vista grossa, mas no dia 28 de junho os policiais resolveram invadir o bar e prenderam vários frequentadores, em especial travestis e drag queens porque usavam roupas do sexo oposto.

Os outros frequentadores se rebelaram, jogaram objetos na polícia e atearam fogo. A polícia e os bombeiros chegaram e os rebeldes se dispensaram.

Mas nos 5 dias seguintes, eles se reuniram na frente do Stonewall para protestar contra a violência contra a comunidade LGBT+. E assim nasceu o mês e o Dia Internacional do Orgulho LGBT.

Em 24 de junho de 2016, o presidente Barack Obama transformou o bar Stonewall num monumento nacional, o primeiro monumento norte-americano a homenagear as contribuições dos homossexuais aos Estados Unidos.

Parada do Orgulho LGBT

O mês de junho também ficou conhecido como o Mês do Orgulho LGBT e normalmente, vários destinos celebram através da Parada LGBT.

Aqui em São Paulo a Parada acontece em maio ou junho (costuma ser no feriado de Corpus Christi), mas a de Nova York acontece no mês de junho mesmo, entre outros tantos destinos pelo mundo.

1 – Gays vão para o inferno

Será que algum hétero já foi convencido a ser gay, porque se você for hétero, vai para o inferno?

Alguns religiosos ficam criando programas de conversão de héteros e também criam discursos em que os gays são uma aberração, são contra a natureza.

Por isso, quando uma voz como o Papa Francisco se ergue em favor dos gays, dizendo que os gays merecem um pedido de perdão por parte da Igreja Católica, a gente respira um pouco aliviado e acredita que ainda pode existir religião sem que haja intolerância ao diferente.

2 – Gays precisam ser curados

Um projeto de Cura Gay (ou “auxiliar a mudança da orientação sexual, deixando o paciente de ser homossexual para ser heterossexual, desde que corresponda ao seu desejo”) da Câmara dos Deputados seguia trâmites para aprovação até 2019, quando finalmente foi arquivado.

Isso mesmo, existem psicológos e psiquiatras que ainda atuam tentando tratar a homossexualidade.

Quando se fala em tratamento ou cura, o pressuposto é que haja uma doença. Por acaso existe tratamento para ajudar um heterossexual que queira ser homossexual?

Um dia, de fato, a homossexualidade foi considerada um distúrbio mental. Em 1973 (coincidentemente, ano de meu nascimento) a Associação Americana de Psiquiatria tirou as orientações sexuais de sua lista de transtornos mentais ou emocionais.

Mas até 1990, a Organização Mundial de Saúde ainda tinha um CID – Código Internacional de Doenças para o homossexualismo. Finalmente a partir de 1990, o código foi retirado.

3 – Gays sofrem violência

Será que algum hétero foi espancado na rua porque estava beijando a sua namorada na rua? Ou simplesmente porque tinha trejeitos de hétero?

Há discursos, até mesmo entre os próprios gays, que a violência contra os homossexuais ocorre porque eles “deram pinta”, ou porque provavelmente paqueraram héteros. E voltamos para aquela velha questão de que a vítima não pode ser culpada.

 

Da mesma forma, o gay não pode ser condenado porque é afeminado, porque não foi discreto ou até mesmo porque eventualmente deu em cima de um homem.

Criticar o gay que é vítima de violência ainda revela o preconceito estrutural, que está fincado na mentalidade das pessoas.

O Brasil é um dos países em que o índice de violência é mais alto. Em 2017 foi registrado um recorte de LGBTs mortos no Brasil. Muitos desses ataques são motivados por fanáticos religiosos, infelizmente.

Em 2019, relatório do GGB – Grupo Gay da Bahia, indicou que o Brasil é o país que mais mata gays, lésbicas e transgêneros do mundo.

E o que dizer do massacre em Orlando, nos Estados Unidos, ocorrido em 2016. O ataque homofóbico a uma boate gay deixou uma marca lamentável de 50 mortos, muitos feridos e milhões de pessoas horrorizadas.

 

4 – Gays são discriminados nas próprias famílias

Quando eu resolvi contar para minha mãe que era gay, ela aceitou tranquilamente, porem mesmo sabendo que sou feliz da forma que sou, ainda reluta em não aceitar. Na cabeça deles, era como se o filho tivesse caído completamente no caminho da marginalidade.

Será que algum hétero foi expulso de casa ao contar para os pais a relevação de que sim, eu sou hétero pai!

Já foi dito que os negros, ainda que sofram preconceito fora de suas casas, nunca sofrerão dentro de sua própria família. Ainda terão no seio de seu lar, a presença de um pai ou de uma mãe negros, que lhe servem de espelho. Muitos gays cresceram, ou ainda crescem, sem poder sequer revelar QUEM SÃO dentro de suas próprias casas.

E alguns ainda correm o risco de ser expulsos de casa ao revelarem a homossexualidade.

No vídeo a seguir, eu e Cleber contamos um pouco como foi que saímos do armário (revelamos que somos gays) aos nossos pais.

5 – Gays sofrem nas escolas

Você se lembra de alguma criança hétero ser ridicularizada na escola, pelo fato de ser hétero? Seu heterozinho.

Até acredito que hoje em dia o bullying às crianças gays é bem menor do que na minha época, quando no início de todo ano eu tinha que lidar com as piadas jocosas e a agressão psicólogica de vários colegas de classe.

E nas eleições que tornaram Jair Bolsonaro presidente, ficou famoso o caso de fake news divulgando a existência de um kit gay criado por Haddad e que seria distribuído para crianças de 6 anos de idade.

A notícia compartilhada por Bolsonaro foi desmentida e o TSE – Tribunal Superior Eleitoral mandou Bolsonaro retirar os vídeos da internet. Infelizmente, o estrago e a desinformação já tinham se espalhado.

Infelizmente, essas e outras mentiras ajudaram a eleger um presidente homofóbico no Brasil.

6 – Gays são odiados na internet

Quando o YouTube lança a campanha #ProudtoBe (ou #OrgulhodeSer) e convoca youtubers do mundo inteiro para manifestar seu orgulho de ser LGBT, o vídeo é amplamente atacado com discursos de ódio na internet.

Em 2016, o vídeo #ProudtoBe: Coming Brave Voices, teve quase mais de 6 milhões de visualizações. Mas o que assusta mesmo é a quantidade de dislikes que o vídeo recebeu, maior que a quantidade de likes.

Os comentários costumam ser tão odiosos e com tantas manifestações de ódio, que o YouTube já teve que simplesmente desativar a caixa de comentários.

7 – Gays são perseguidos politicamente

Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, todo um novo cenário político tem se desenvolvido no Brasil. Bolsonaro já declarou publicamente ser homofóbico.

A nomeação da ex-pastora evangélica Damares Alves para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos criou várias polêmicas com a comunidade LGBTQI+. Sua frase “É uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa!” ficou famosa.

Além disso, o governo atual flerta com o fascismo, incentivando manifestações antidemocráticas e com várias declarações que vão contra a liberdade a imprensa.

Mas a principal ameaça é uma intervenção militar, que vem sendo incentivada pelas manifestações que Bolsonaro participa e incentiva. Seu filho, Eduardo Bolsonaro, também já fez declarações que alertam para essa possibilidade.

8 – Gays e o Turismo

O setor de turismo costuma desenvolver algumas campanhas focadas no público LGBT. Mas no geral, é muito difícil ver representatividade nas propagandas publicitárias.

Algumas iniciativas procuram trazer mais foco para o setor do turismo LGBT, que movimenta mais de 150 bilhões de reais no Brasil. Um estudo do Sebrae revelou que o turismo LGBT é um dos segmentos que mais fatura no Brasil.

Apesar disso, as campanhas publicitárias de hotéis e destinos turísticos são dominadas por casais heterossexuais. É díficil encontrar informações dedicadas ao público LGBT nas páginas de turismo oficial dos destinos.

Iniciativas como o Fórum de Turismo LGBT reúnem o trade e trazem novas perspectivas e ideias para explorar melhor esse potencial.

Um dos destinos que recentemente abraçou a causa foi o Turismo do Mato Grosso do Sul. O destino lançou uma versão LGBT de seu selo turístico, divulgado no mês do orgulho LGBT no perfil do destino no Instagram.

9 – Gays são boicotados

É comum ouvirmos falar de boicotes a empresas que lançaram campanhas favoráveis aos gays, como foi o caso da Natura, do Boticário ou até mesmo da Globo, durante a novela Babilônia (que tinha um casal lésbico).

Alguém já ouviu falar de uma campanha de boicote a algum comercial ou novela que teve a ousadia de mostrar um casal hétero?

Mas é possível falar de uma série de empresas que hoje se diferenciam por apoiar e se engajar em causas LGBT, e boicotar todas essas empresas daria um trabalho danado.

Isso porque o inventor do computador era gay. Vale a pena conferir o filme “O Jogo da Imitação”, de 2015. Então seria preciso boicotar os computadores.

E bora boicotar o Facebook, a Microsoft, a Apple e a Dell, empresas envolvidas no mercado de informática que também apoiam a causa gay. O Google e o YouTube, as maiores ferramentas de busca da Internet, também deveriam ser boicotadas. E para os consumistas, Gap, Nike e Coca-Cola também deveriam ser evitadas.

Os gays são até bem aceitos na Disney, viu?

10 – Mas agora, gays podem casar 

Será que héteros alguma vez foram impedidos de constituir família, de casar com as pessoas que amam?

Não faz muito tempo que o casamento gay foi finalmente aprovado no Brasil. Foi em 16 de maio de 2015, que o Conselho Nacional de Justiça determinou que nenhum cartório do país pode “recusar a celebração de casamentos civis de casais do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável homoafetiva.

Assim estabelece a Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013, aprovada durante a 169ª Sessão Plenária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”.

E o Dia Internacional do Orgulho Gay ainda é muito importante e está aí, para que todas as nossas vozes sejam ouvidas. Com muito orgulho de ser quem a gente é.

Mas quem sabe um dia realmente ninguém mais precise levantar bandeiras e afirmar seu orgulho gay. Ainda estamos bem longe desse dia, infelizmente.