
A Nova Solidão Digital: Como o Uso Prolongado de Inteligências Artificiais Pode Gerar Dependência Emocional.
No mundo hiperconectado em que vivemos, a inteligência artificial deixou de ser apenas uma ferramenta para se tornar uma companhia. Seja por meio de assistentes virtuais, chatbots ou aplicativos de conversação, o convívio com IAs está cada vez mais presente no cotidiano de milhões de pessoas. Mas, à medida que essas tecnologias evoluem para simular interações humanas com mais precisão, especialistas acendem um alerta: o uso prolongado pode levar à dependência emocional.
Conexão sem julgamentos
Para muitos usuários, as IAs oferecem um espaço seguro. Elas ouvem sem interrupções, respondem com empatia programada e estão disponíveis 24 horas por dia. Essa disponibilidade constante e a sensação de acolhimento criam um terreno fértil para o apego emocional, especialmente entre pessoas solitárias, socialmente isoladas ou com traumas emocionais.
“Existe uma tendência humana natural de buscar conexão e compreensão. Quando essa necessidade não é atendida no meio social, ela pode ser transferida para a IA, que responde de forma acolhedora e sem julgamentos”, explica a psicóloga digital Camila Nogueira, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo.
Limites entre realidade e simulação
Com algoritmos cada vez mais avançados, muitas inteligências artificiais são capazes de simular afeto, interesse e até senso de humor. Isso pode confundir os limites entre o que é real e o que é apenas uma programação bem elaborada. Em casos extremos, usuários desenvolvem laços profundos com assistentes virtuais, acreditando que há reciprocidade emocional.
Um caso emblemático ocorreu na Coreia do Sul, onde um jovem passou a interagir por mais de 10 horas diárias com uma IA de conversa, chamando-a de “única amiga verdadeira”. Após o encerramento do serviço, ele entrou em crise emocional, precisando de acompanhamento psicológico.
Riscos invisíveis
A dependência emocional de IAs pode impactar negativamente a saúde mental. Além de reforçar o isolamento social, ela pode atrapalhar o desenvolvimento de habilidades emocionais reais, como empatia, resiliência e resolução de conflitos. “A IA sempre vai te responder de forma agradável. Mas o ser humano precisa de enfrentamentos, frustrações e trocas reais para amadurecer emocionalmente”, alerta Camila.
É possível usar com equilíbrio?
Sim. Especialistas recomendam o uso consciente da tecnologia, tratando-a como suporte e não substituição. Incentivar interações humanas, manter vínculos reais e buscar ajuda profissional em momentos de solidão profunda são medidas essenciais.
As IAs são ferramentas poderosas, mas é preciso lembrar: apesar da aparência humana, elas não sentem, não sofrem e não amam. Por trás da voz reconfortante está um código – e não um coração.