É PARA AMANHÃ, MAS E HOJE?
Foi de repente que o mundo mudou. Fui colocada para dentro de casa, como se minha mãe me chamasse de volta depois de passar o dia fazendo travessuras. Não sou mais a criança de outrora, mas sinto medo e insegurança. Como se voltasse aos tempos de infância em que nada tínhamos a não ser nós mesmas (no caso eu, minha mãe e minha irmã). Me vi em reflexão.
Como lidar com meus próprios sentimentos amplificados? Meus medos?
Medo de sair na rua, medo de não sair. Medo de encontrar a família, medo de nunca mais conseguir seguir. Como lidar com tudo que aflora nestes tempos de agora? Como reconhecer minha potência com tantas coisas para dar conta? Para entender? Como transformar sentimentos de solidão em solitude?
Fico pensando se em um país com tantas desigualdades, as pessoas se dão conta do quanto muitas vezes estão sozinhas. Falo isso no sentido de luta por direitos. De sororidade real, de redes de apoio. Sim, porque antes da pandemia estávamos aprendendo como era importante oferecer ajuda a quem mora sozinho, ao idoso, à mãe solo. E agora? Agora aquela euforia do início acabou. Como ficam essas questões?
“ Ainda tenho a angústia e a sede
A solidão, a gripe e a dor.” (Vanessa da Mata, Bolsa de Grife)
Como criar conexões virtuais, se estávamos engatinhando nas conexões reais? Está adiado para um certo amanhã: o café com os amigos, o bar, o abraço. O que temos agora é potencial virtual, que necessita de um esforço ainda maior de todos os lados da equação. Perguntar se dormiu bem, como tem se sentido. Procurar fazer chamadas de áudio e vídeo para escutar e rir são bons caminhos para começarmos. Aprendi a enviar sacolas com alimentos, a oferecer ajuda, um bolo deixado na portaria, um pão, um gesto e aliviar a solidão.