ARTIGO,  TECNOLOGIA

Marisa Maiô: a apresentadora de IA que virou garota-propaganda e sacudiu a indústria da publicidade

Personagem criada com geração de vídeo por IA já estrelou campanhas para Magazine Luiza e OLX em menos de dez dias; especialistas veem um ponto de virada — e um alerta — para o mercado criativo.

De meme a mídia: quem é Marisa Maiô?

Em sete dias, a apresentadora fictícia “Marisa Maiô” saltou do feed de humor no TikTok para as manchetes dos cadernos de marketing. Criada pelo roteirista e youtuber Raony Phillips, a personagem nasceu a partir de modelos de geração de vídeo de última geração (o Google Veo3, segundo o próprio criador) e imita, com doses generosas de sátira, os programas de auditório populares da TV aberta brasileira. Seu primeiro “episódio” viralizou ao comentar dramas amorosos de seguidores — e atraiu, de quebra, mais de três milhões de visualizações em 24 h.

Dois comerciais, duas marcas e milhões de views

O interesse das marcas veio instantaneamente. No dia 7 de junho, o Magazine Luiza lançou a primeira ação publicitária com Marisa Maiô: um spot de 40 segundos para o Dia dos Namorados que mistura piadas sobre relacionamentos e chamada para descontos em presentes. A peça, 100 % gerada por IA, superou 238 mil views na primeira hora nas redes da varejista.

Três dias depois, a OLX divulgou um segundo comercial protagonizado pela mesma apresentadora virtual, desta vez ironizando a “troca” de objetos entre ex-casais. O vídeo entregou 1,6 milhão de visualizações orgânicas em 48 h, segundo dados internos da plataforma que a reportagem apurou.

Por que isso importa — e para quem?

  1. Eficiência de produção
    Criar um comercial com Marisa Maiô custa uma fração do cachê de um apresentador de TV e elimina deslocamentos, estúdio e pós-produção extensiva. “Gravei o episódio do Magalu em nove horas, do prompt ao vídeo final”, contou Phillips em live no Instagram.

  2. Velocidade de resposta
    A IA permite atualizar roteiros, adaptar bordões e trocar cenários em poucas horas — algo valioso em datas-relâmpago como Black Friday ou promoções relâmpago de varejo.

  3. Escalabilidade global
    A mesma avatar pode falar dezenas de idiomas sem regravações físicas, característica que já desperta o interesse de agências multinacionais.

O outro lado da moeda

Apesar do entusiasmo, o fenômeno acende luzes amarelas:

  • Risco de saturação – Se várias marcas usarem o mesmo personagem (ou clones semelhantes), o impacto pode se diluir rapidamente e gerar “fadiga de feed”.

  • Questões trabalhistas – Sindicatos de atores ensaiam debates sobre remuneração e uso de likeness digital, ecoando a greve de roteiristas de Hollywood em 2023.

  • Transparência com o público – Apenas 22 % dos consumidores brasileiros conseguem identificar que Marisa Maiô é uma criação de IA, segundo pesquisa rápida da consultoria MindMiners. A falta de rotulagem clara pode ferir as diretrizes do Conar sobre publicidade honesta.

O que vem a seguir?

Raony Phillips afirma ter recebido propostas de três redes de televisão interessadas em adaptar o “Programa Marisa Maiô” para streaming interativo, com inserções comerciais personalizadas em tempo real. Paralelamente, plataformas de creator economy avaliam licenciar a tecnologia para pequenos anunciantes, o que pode popularizar ainda mais avatares-garota-propaganda.

Para as agências, a mensagem é clara: entender IA generativa deixou de ser diferencial — virou requisito básico. “Marisa Maiô não rouba empregos; ela muda a natureza deles”. Importantes é Roteiristas, diretores de arte e planners precisarão reforçar competências em prompt design, curadoria de dados e ética algorítmica.