O Silêncio Forçado: Quando a Vítima Vira Ré.
Falar sobre assédio e perseguição é mexer em feridas abertas que muitos preferem esconder. O assédio, seja moral ou psicológico, não se resume a cobranças exageradas, humilhações públicas ou perseguições veladas. Ele tem um efeito devastador: corrói a dignidade, adoece a mente e isola a pessoa que sofre. Mas existe uma violência ainda mais cruel e silenciosa quando a vítima decide romper o silêncio e buscar ajuda, e, em vez de acolhimento, encontra julgamento, descrédito e inversão de papéis.
A dor de não ser ouvido
O primeiro passo de quem sofre perseguição é, quase sempre, tentar resistir sozinho. Carregar o peso em silêncio parece mais seguro do que expor-se ao risco de não ser acreditado. Quando, enfim, há coragem de procurar apoio em órgãos competentes ou em pessoas de confiança, a expectativa natural é de amparo, de validação, de justiça. Mas muitas vezes, a realidade é o oposto: a vítima passa a ser tratada como se fosse culpada, exagerada ou até mentirosa.
Esse mecanismo perverso, conhecido como gaslighting institucional, mina qualquer esperança de justiça. O sofrimento real é distorcido, e a narrativa de quem denuncia é colocada sob suspeita. Assim, em vez de proteção, recebe mais uma camada de violência: a da negação e do silenciamento.
A inversão da culpa
O que poderia ser um espaço de escuta e acolhimento se transforma em tribunal. Testemunhos são relativizados, provas são ignoradas, e o agressor, muitas vezes, protegido por hierarquias e conveniências, permanece intocável. A vítima, já fragilizada, é empurrada para o papel de ré. Carrega, além da dor do assédio, a marca injusta de quem “inventa” ou “exagera”.
Essa inversão de culpa é uma das maiores violências sociais. Ela perpetua ciclos de silêncio, porque quem observa entende a mensagem: não vale a pena denunciar. É melhor sofrer calado do que ser exposto, desacreditado e ainda responsabilizado pela própria dor.
O impacto invisível
As consequências desse processo vão muito além do ambiente de trabalho ou da convivência social. O peso da injustiça reflete na saúde mental, causando ansiedade, depressão, estresse crônico e até a perda de sentido no trabalho e na vida. A sensação de impotência diante de um sistema que não protege pode ser tão devastadora quanto o próprio assédio.
Romper o ciclo
Ainda que o sistema tente calar, é preciso continuar escrevendo, denunciando, falando. O silêncio só favorece os agressores. A fala, mesmo quando desacreditada, deixa rastros de verdade que, cedo ou tarde, encontram ressonância. Romper o ciclo significa resistir ao apagamento, transformar a dor em voz, e se fortalecer na rede de apoio de quem realmente escuta e acredita.6


