COMPORTAMENTO

PORQUE AS PESSOAS SE APROVEITAM DE VOCÊ?

A resposta à pergunta acima é “Porque permitimos que o façam”. Ocorre um problema sério com algumas pessoas boas que gostam de pessoas: elas insistem em ser disponíveis e generosas obtendo como resultado ser usadas e desrespeitadas. Quando acordam para a realidade se sentem traídas, tristes e decepcionadas. Muitas tendem a endurecer no ressentimento; outras se deprimem sem saber como reagir de forma a salvar seja sua bondade que a confiança nos outros.

Numa cultura onde feminino e masculino vivem divorciados, coração e inteligência não se conversam. Nesse contexto ser bom geralmente

significa ser tolo e vulnerável. Quantas pessoas espertas vocês conhecem que podem chamar de boas? E quantas pessoas boas podem nomear que são espertas? Estou falando de pessoas boas, não das sonsas. Ser bom é fazer e dar sem pedir nada em troca; ser sonso é ser dócil para conseguir algo em troca.

Pessoas boas geralmente lidam ou com gente subrrepticiamente egoista (as sonsas e miopes) ou com as explicitamente egoistas (as autoritárias e insensíveis). Continuar sendo disponíveis com pessoas assim não vai tornar essas pessoas repentinamente melhores, como se pudessem receber uma iluminação improvisa e fossem ficar com vergonha de terem se aproveitado de alguém por tanto tempo. Não, muito pelo contrário: dar sem receber alimenta o egoísmo do outro. Generosidade cega nutre o aproveitamento alheio. A disponibilidade incondicional dá suporte à prepotência do outro.

bondade

A alternativa é ser inteligentemente bons. Unir a cabeça ao coração e, consequentemente, abrir os olhos. Pessoas incluem em si um emaranhado de motivos, tendências, problemas e intenções. Quando se é bons: exatamente com o que se é bons? Com qual intenção, tendência, comportamento do outro estamos sendo bons? Quando dizemos “sim”, o que estamos apoiando no outro? E o nosso “não” põe limites no que exatamente do outro?

Essas perguntas se respondem com outras perguntas: O que queremos incentivar? Quais são nossos valores? Que relação queremos? E sobretudo: o “sim” e o “não” que eu digo ao outro já os disse antes para mim mesma?

Uma mulher que faz tudo o que o marido quer, está alimentando o egoismo dele. Ele chama isso de “amor” e ela também, mas a verdade é que ela é submissa e está engolindo sapos, enquanto ele é prepotente e egocêntrico. Ela é incapaz de assumir suas necessidades, tem medo dele e/ou das consequências de se posicionar e ele pouco se importa com o que ela precisa. Resultado: não há amor. Para chegar a essa situação, ela disse “não” a si mesma antes de sofrer o “não” silencioso dele. Ele por sua vez, disse “não” à própria sensibilidade para tratá-la desse jeito. Ele não a enxerga e não quer enxergá-la. Ela está criando um tirano que a escraviza.

Permitir o comportamento do outro não é sinônimo de bondade, mas de passividade e inconsciência. Há atitudes que devem ser interrompidas. Muitas vezes, as pessoas sequer se dão conta do que fazem e jamais irão se aperceber até não encontrarem um obstáculo na sua frente. Esse obstáculo é você quando diz “não”. E esse “não” tem que ser tanto mais firme quanto mais intensa for a tendência do outro ou quanto mais antigo for o comportamento que se quer modificar.

Nisso, meu cachorro ensina maravilhosamente bem. Não é culpa dele se é um Blue Hiller apaixonado pela vida, cheio de energia e entusiasmo. Não é também culpa dele se é um líder cabeçudo querendo orientar o bando. Para que nos relacionemos bem, eu preciso usar uma força física (segurá-lo) e firmeza (psicológica) muito maior do que se estivesse lidando com um toy-poodle. Não preciso ficar com raiva, devo é ser firme e saber o que estou fazendo e onde quero chegar. Quando me posiciono assim, ele entende, muda de atitude e segue. Suas tendências seriam “más” se tomassem o controle sobre mim e nossa vida. Uma vez que vivemos numa cidade, por exemplo, sou eu quem conhece o que é atravessar quando a luz está verde. Se ele não confiar em mim e me seguir, ambos correremos riscos. Com este exemplo quero dizer que o mais inteligente e consciente tem que estar no comando (e nisso, sou platônica: o governo deveria ser dos filósofos, ou seja dos que possuem visão e conhecimento). Ao ver um comportamento errado, quem o sofre e se dá conta do erro tem a obrigação moral de tomar uma atitude. Para o bem de todos.

Saber dizer “não” implica se dar o direito de se proteger, de querer receber algo em troca e de ser feliz. Muitas vezes, essa “bondade”, que como um tiro sai pela culatra, só se compreende quando se olha mais profundamente e se dá uma olhada no nível  de autoestima da pessoa. Baixa autoestima busca aprovação dos outros, apoio, carinho e reconhecimento. E como pretende obtê-los? Dando! No fundo o super-bom, dá para poder receber carinho e aceitação. Tem medo de estabelecer limites e de perder as pessoas, que porém não pode conquistar sem se respeitar antes.

A busca inconsciente por amor e aprovação está na raíz daquela bondade que acaba por ser abusada pelos outros. É como uma pessoa que abre seu baú do tesouro na praia de Copacabana e sorrindo assiste ao corre-corre do povo agarrando e levando. O resultado final é esgotamento, depressão e solidão. Então, se alguém está se aproveitando de você é porque você está permitindo. Não reclame. Tome uma atitude. Na verdade, a crise que nasce da realização de que aproveitaram de nós é a crise existencial pela forma como temos conduzido nossa vida.

Pois é eu sei bem como é isto, e realmente e uma situação totalmente chata, e insuportável as vezes, ate mesmo difícil de lhe dar. Mas nada que o tempo começa a ensinar a nos mesmo a pode reagir e tomar medidas na quais nos coloca em nosso lugar somente nosso sem ter alguém para impor e se aproveitar.