COMPORTAMENTO

PORQUE USAMOS A INTERNET PARA JULGAR ALGUEM?

Esses dias navegando pelo facebook, sempre me deparo com alguns post sempre relacionado a alguém, mas sem nome e típica aquela brincadeira de criança mando o recado se a carapuça serve ótimo eu fico feliz que você mesmo tenha pego, pois era para você. Então aquela foto daquela criatura entrando no mar parecendo uma sereia e quando sai quase caindo sendo jogada para fora, ou seja iemanja devolvendo a oferenda que tanto assusta hahahah clássico isto, mas eu morri de rir para falar a verdade. mas sempre acabamos julgando querendo ou não, mau do ser humano?

Então a algumas semanas atras, estava sendo divulgada uma imagem de um casal  e seu filho eles fantasiados de Aladin e princesa Jasmin e o filho de Abu isso mesmo o Abu aquele macaco do Aladin, detalhe a criança em si era nega, bom esta ai um prato cheio para que as pessoas viessem a falar sobre né! veio a tona sobre racismo, entre mil coisas aconteceu, mas e dai? o que eles estavam fazendo de mau pergunto eu? só porque foram fantasiados… Não seu filho negro era o Abu, então me responde algo toda vez que alguém ver uma pessoa negra e ela estiver fantasiada com o que quer que seja podemos dizer que é caso de racismo caso venha estar com uma fantasia ligada a um macaco?

Sei que existem questões super importantes sobre o racismo que foram levantadas por essa história, inclusive li essa carta aberta que explica muito as coisas graves que envolvem essa confusão. Qualquer dia quero chamar alguém que entende bem do assunto pra falar disso por aqui, mas hoje queria focar nesse outro ponto delicado da história .

Por mais que o pai estivesse errado – sim, ele estava e admitiu na resposta à carta anterior- que direito as pessoas tinham de invadir loucamente a vida dessa família?

Que direito o indivíduo que divulgou tinha de tirar a foto, espalhar na internet e expor 2 adultos e 1 criança – sem o consentimento – para que elas fossem julgadas livremente? Como já disse, acho que a discussão sobre racismo em cima desse assunto é importante – e acho que os pais deviam usar esse episódio para aprender mais sobre isso e educar o pequeno Mateus a lidar com esse mundo cão – mas a gente sabe que a internet é o lugar onde habita o pior tipo de juiz, aquele que não quer saber todos os fatos para dar sua sentença. Entre elas vi várias gravíssimas como, por exemplo, pessoas que defendiam que eles perdessem a guarda do filho!

Apesar de eu achar esse caso mais grave, afinal a família não teve controle sobre sua exposição virtual, trabalhando com internet e convivendo com pessoas que são populares e influentes nesse meio, já cansei de ouvir histórias de gente que foi apedrejada por algum deslize e que acabou se transformando em algo muito maior. As pessoas vinham com as pedras na mão e a justificativa para o apedrejamento era simples (e super repetida por aí como argumento principal): “a pessoa está se mostrando na internet, pediu para ser julgada”. Será mesmo?

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Não vou ser hipócrita, julgar é inerente do ser humano. É algo tão natural que muitas vezes fazemos isso sem perceber, e não é à toa que realities como o BBB fazem tanto sucesso. Julgar desconhecidos nos dá uma sensação boa de poder e de superioridade e gostar de sentir isso não nos faz ruins, mas qual é esse limite? A diferença é que antes os nossos julgamentos atingiam poucas pessoas e dificilmente prejudicava o julgado, mas hoje um simples texto no Facebook pode chegar a milhares de indivíduos, muitos que não te conhecem mas que viram nas suas palavras uma oportunidade para expor suas opiniões e de repente, uma marolinha vira um tsunami.

Já vi coisas maravilhosas acontecerem porque as palavras de um atingiram milhares.Vi marcas e estabelecimentos perdendo clientes porque pisaram na bola com uma pessoa, vi mulheres se unindo para defender uma participante de reality show menor de idade que foi assediada virtualmente por homens sem noção, vi revistas mudando seu posicionamento para se adequar às discussões virtuais. O próprio caso do Alladin teve um desfecho interessante apesar do desgaste que causou à família, já que permitiu que as pessoas certas conseguissem debater de forma lúcida, educada e sem um pingo de julgamento a questão do racismo nesse caso.

Mas até onde estamos certos de usar a internet para falarmos e fazermos coisas que provavelmente não faríamos fora do mundo virtual? Será que tantos dedos seriam apontados para todas as direções? Será que tantas pessoas seriam expostas desnecessariamente? Será que existiriam tantos justiceiros?

Em tempos de problematizações recorrentes em um ambiente onde qualquer um pode ter voz (o que é uma coisa boa), eu acho que empatia é fundamental. Todos somos passíveis de erros, o que quer dizer que todos nós estamos suscetíveis a julgamentos alheios, de pessoas que nunca nos viram e não têm a mínima noção da nossa história mas vão invalidar todas as coisas boas que já fizemos por causa de um único deslize que pode nem ter sido intencional. Acho que antes de sairmos despejando nossos julgamentos (intolerância, racismo, machismo ou qualquer outra coisa ruim) disfarçados de opinião, é sempre válido fazer o exercício e antes de escrever a primeira palavrinha, se perguntar “eu gostaria de ouvir isso se tivesse no lugar dessa pessoa?”, “eu conheço realmente os fatos para poder falar desse jeito?”, “eu posso me arrepender de ter falado isso tudo caso eu descubra que julguei errado?”.

Não é fácil, eu sei porque eu tento e nem sempre consigo, mas acho que já ajuda bastante para que certos limites sejam estabelecidos, pense a respeito, e responsa a si mesmo se vale a pena?