COMPORTAMENTO

RELACIONAMENTO ABUSIVO, PERDOAR O QUE SIGNIFICA

Como identificar se você está vivendo esse tipo de relação Abusiva. Hoje quero aprofundar um pouquinho mais essa nossa conversa. E quero trazer um tema muito importante (e bastante delicado) para quem vive ou já viveu um relacionamento abusivo: o perdão.

Antes de seguirmos, quero pedir que você leia com mente e coração abertos. Existem muitos mitos sobre o perdão, que pretendo desconstruir aqui. Mas também quero deixar claro que você não é, nem nunca será obrigada a nada. Combinado?

Uma coisa que torna o perdão tão desafiador é o fato de acreditarmos que perdoar é esquecer. É praticamente impossível esquecermos as profundas feridas causadas por um relacionamento abusivo. Particularmente, acredito que não devemos esquecê-las. Essas experiências fizeram parte da nossa vida e devemos honrar a nossa jornada, por mais difícil que ela possa ter sido.

Perdoar também não é relevar o que aconteceu.

Muito menos ser conivente com a violência. Ou permanecer se sujeitando a ela. Ou dar permissão à pessoa que nos feriu para continuar fazendo isso. Seja conosco ou com outras pessoas.

Tendemos a acreditar que o outro nunca merecerá o nosso perdão, como se assim ele estivesse sendo punido pelos erros que cometeu. Mas a verdade é que o perdão não é para o outro.

Perdoar é um gesto curativo e de libertação para nós mesmas.

Você já se machucou alguma vez na vida, certo? Já teve uma ferida física que deu uma casquinha, depois cicatrizou e por fim, curou. Correto? E o que acontece quando você tira a casquinha do machucado? A ferida revive. Ela fica aberta, sangra e o processo de cicatrização deve ser reiniciado. E se você tirar a casquinha toda vez que ela começar a se formar? Nunca será possível se curar definitivamente do machucado. Podendo até mesmo haver complicações muito mais graves e dolorosas.

Com as nossas feridas emocionais o processo é exatamente o mesmo. No meu ponto de vista, quando não perdoamos, nunca podemos concluir o processo de cura. Permanecemos eternamente presas à situação que nos causou dor. Revivemos diariamente as situações difíceis, deixando abertas feridas que perpetuam nossa dor ao longo da vida.

O tempo físico passa, mas, emocionalmente, acho que permanecemos presas ao passado. Revivendo continuamente a mesma experiência. Impedindo que nossa vida siga seu fluxo e que novas energias tenham espaço dentro de nós.

Sei que pode parecer um contrassenso. sSi que talvez possa parecer que para perdoar é fundamental reviver o passado e isso sim trará dores desnecessárias. Mas não é bem assim.

Analisar nossos relacionamentos abusivos não é revisitar o passado gratuitamente.

É uma oportunidade de transformar nossos padrões de comportamento, levando-nos a atrair relações amorosas e afetivas mais saudáveis. Lembrando que, sempre que possível, é aconselhável que esse processo seja acompanhado por profissionais. Pessoas aptas a nos dar o suporte adequado nessa jornada de autoconhecimento.

Quase sempre nós temos um papel que nos prende às relações tóxicas. Ele não é consciente e nem nos transforma em culpados. É importante dizer que nosso intuito aqui não é apontar vítimas ou culpados. Quero mais é fortalecer o senso de autorresponsabilidade, que coloca em nossas mãos a capacidade de reassumir as rédeas de nossas próprias vida, com segurança e autoconfiança. Quando nos damos conta disso, temos a oportunidade de repensar todo nosso processo de desenvolvimento pessoal. E nos colocamos em um lugar de protagonismo e liderança de nós mesmas.

A verdade é que quando descobrimos o que nos fez passar por isso, passamos a poder cuidar da nossa autoestima de perto.

Por outro lado, quando tentamos fechar os olhos para as feridas do passado, elas permanecem abertas dentro de nós. Dessa forma, tenderemos a repetir as situações que tanto queremos evitar. Ou então espelharemos as mágoas e dores, causadas pelas feridas antigas, nas novas relações. Ou, ainda, fechamo-nos completamente para novas experiências, com medo de que aquilo que nos fez sofrer aconteça novamente.

Consegue compreender como perdoar sempre é, e sempre será, sobre nós? A consequência de não perdoar o outro pesa em nós. Em continuar mantendo uma ferida aberta, sendo que a dor que isso causa é nossa!

Perdoar, nesse caso, não é um presente pra parte abusadora. nem mesmo cria espaço pra essa pessoa na sua vida. Perdoar o outro é cicatrizar todas as feridas dentro de nós.

Perdoar não é premiar o passado, é trazer paz. 

Já que estamos falando sobre nós, muitas vezes, a pessoa que mais precisamos perdoar nessa história somos nós mesmas. O autoperdão tem um papel curativo fundamental em nossas vidas. É ele que permitirá que nós nos acolhamos com amor, compreendendo que não temos que nos culpar, nem nos punir pelas histórias de sofrimento em que vivemos. O autoperdão nos faz lembrar de que somos dignas e merecedoras de amor e coisas boas.

Quando conseguimos perdoar, a nós mesmas e aos outros, desatamos o nó energético que nos prende ao passado. Nos abrimos para novas histórias e experiências. Deixamos de ser reféns do que aconteceu e começamos a reescrever uma nova história para nossas vidas, honrando os ensinamentos de Carl Gustav Jung que disse: “Eu não sou o que aconteceu comigo. Eu sou o que escolho me tornar”. Assim, nós nos tornamos capazes de seguir em frente com a leveza, a liberdade emocional e a paz que tanto queremos e merecemos.

Então, se você se sentir preparada e conseguir, deixe ir, cuide de você. Abra-se para as infinitas possibilidades que você pode construir com o seu amor.

Você merece ser feliz. Você merece ser amada. E principalmente, você merece o seu próprio amor. Nossa responsabilidade de melhora é conosco. Não temos o poder de mudar o outro, só ele tem. Podemos nos dar quantas chances quisermos de nos transformarmos e mudarmos nossos padrões. O perdão é não é um prêmio pra quem errou, é um presente para nós mesmas. Perdoar não é fácil, não é obrigatório e nem mesmo simples, mas é libertador.